Os cantares alentejanos são melodias a duas vozes, sobrepostas em terceiras superiores, paralelas. Por vezes, aparece uma terceira voz, um baixo, à quinta inferior em algumas cadências de frases musicais. Estes cantares, a que se dá o nome de modas, são entoados por grupos de homens que se juntam espontaneamente e cantam, cantam, até afinar, até poderem aparecer pelas ruas das povoações dando largas à sua imaginação e fantasia. Escolheram-se entretanto os que devem servir de ponto, isto é, os iniciadores das modas, e também os altos, que retomam as modas já iniciadas, aos quais se juntam finalmente os segundos, ou baixões, como lhes chamam, constituindo-se desta forma um grupo perfeito, em consonância com a tradição.
Qual é a origem deste solene e reverencial cante alentejano, monótono e triste, majestoso e imponente? O que podemos dizer é que nele sobressaem formas dos antigos modos gregorianos, como o mixolídio, o frígio e o eólio, por exemplo nas modas Meu Lírio Roxo, Vamos a Cantar os Reis e Serpa do Alentejo; que o cante alentejano é todo em tons maiores; que o soluço eclesiástico, de uso tão frequente na Idade Média, também se usa em algumas modas alentejanas, como, por exemplo, A Ribeira do Sol Posto; que o trítono, suprimido pela revolução musical schonbergiana, no século XX, existe também em algumas modas alentejanas, como em Ao Romper da Bela Aurora; que o acorde incompleto de tónica e quinto, também em uso no mesmo século, se utiliza nas modas alentejanas; que há muitas modas que principiam pela subdominante, o quarto grau da escala maior diatónica; que no século XV os frades da serra de Ossa, após terem frequentado as escolas de polifonia clássica em Évora, fundaram depois em Serpa, além do Convento dos Paulistas, escolas de canto popular, razão por que esta vila é uma das terras em que melhor se canta, e que, tendo a conquista do Alentejo aos Mouros sido feita com soldados do Norte do País, que aqui permaneceram até à sua consolidação, estes, conhecedores já do fabordão, o deviam ter ensinado aos Alentejanos, razão por que este cante é cantado geralmente só por homens.
Muito haveria ainda a dizer, do ponto de vista sociológico e antropológico, devido às profundas marcas que eles imprimiram no Alentejanos. Onde estes se encontrem, aí estão as suas inesquecíveis modas, a traduzir o amor e a saudade, a alegra e a dor, que a todos uniam comunitariamente. A vida rija e dura que o alentejano sempre levou foi suavizada, embalada pelos seus tristes, dolentes e tradicionais cantares.
AMARELEJA PLENA DE SOL
Ó LINDA OBRA PERFEITA
QUE NOS DÁS TANTO PRAZER
TÃO FÁCIL DEPOIS DE FEITA
(Ó LINDA OBRA PERFEITA)
TÃO DIFICIL DE FAZER
NASCE O SOL ATRÁS DO MONTE
E COM ELE UM NOVO DIA
ESTENDE A LUZ NO HORIZONTE
(NASCE O SOL ATRÁS DO MONTE)
ÈS A NOSSA ENERGIA
TANTAS HORAS, TANTOS DIAS
TANTO SOL NA IMENSIDÂO
RENOVAR AS ENERGIAS
(TANTAS HORAS TANTAS DIAS)
È A MELHOR SOLUÇÂO
AMARELEJA ÈS FALADA
EM CALOR NÂO TENS IGUAL
BELA TERRA ABENÇOADA
(AMARELEJA ÈS FALADA)
POIS JÀ NASCEU A CENTRAL
Grupo Coral da Soc Recreativa