Hoje fui ao monte e quando fui à horta reparei em como está velho o poço. O poço da minha infância está quase a cair e o tanque onde a minha avó lavava a roupa também. À volta do poço da minha infância já não existe mais a horta, agora só resta o pasto e uma ou duas laranjeiras quase secas. Comi uma laranja e lembrei-me da minha avó, a minha avó costumava cuidar da horta e das laranjeiras e eu costumava ajudar-lhe. O poço da minha infância tinha uma bomba manual de tirar água toda em ferro e eu gostava muito de ajudar a minha avó a tirar água do poço, depois enchíamos os baldes e regávamos a horta. No verão enchíamos também o tanque. À tarde depois da sesta íamos à horta e eu tomava banho no tanque. Quando acabávamos de regar enchíamos os cântaros de água fresca e eu ajudava a minha avó a carregar a água até ao monte. O caminho até ao monte era feito por uma extrema muito estreita e tinha uma ladeira que eu costumava subir a correr enquanto a minha avó gritava lá de longe: Filha olha que partes o cântaro! De manhã ia com o meu avô até ao poço dar de beber às cabras, o meu avô levava uma garrafa de vinho enrolada numa saca de serapilheira e deixava-a dentro poço até à hora do almoço, dizia o meu avô que era para ficar mais fresco. No monte o jantar era servido antes das oito, dizia a minha avó que era para poupar o petróleo do candeeiro. No verão a seguir ao jantar costumávamos sentar-nos na rua do monte à fresca e o meu avô contava-me histórias da sua infância. Às vezes ficávamos só a ver as estrelas e a ouvir as corujas cantar.
Que saudades que eu tenho do poço da minha infância…
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