Não deu para aquele meu Portugal que faz parte deste meu dualismo. Eu sentia isso...paciência . Poderia ter sido de maneira diferente, porque não jogou mal. A França pouco fez se compararmos este jogo com o do Brasil. Portugal chegou até ao seu limite, atingiu o máximo da sua capacidade. Mas ficou uma grande lição ; o Brasil sentiu e torceu por Portugal de norte a sul, irmanou-se ao pequeno e velho país do outro lado do atlântico ... seu irmão , seu parceiro de língua , seu passado, seu casamento na trajetória histórica que inevitavelmente começou lá de traz. Lá do outro lado do mar. Lá aonde nasceu a saudade e aqui sentida como lá .
Foi a primeira vez que houve um encontro entre os dois países sem ser marcado, sem agenda , sem preconceito. Mais baseado na emoção, na entrega, no gesto, no querer. Incondicionalmente, por impulso, pelo coração, pela afinidade descoberta e sentida de maneira natural, como se um fluxo de emoção tivesse ligado as duas margens do Atlântico . E as bandeiras dos dois países tremularam lado a lado. Lá e cá. De mãos dadas descobrindo afinidades. E as torcidas se uniram no grito do lance, na dúvida, na jogada mal definida, na bola que não entrou quando o caminho desejado era o fundo da rede.
E a lição maior foi ver o sentimento de um homem que soube descobrir e sentir Portugal e soube conquistar a maneira pacata e às vezes envergonhada dos portugueses sentirem o seu país .
Este homem que já pertence à historia de Portugal, desembrulhou de vez a emoção contida sob o manto da polidez , do parece mal . Ensinou Portugal a desfraldar a sua bandeira assomando-a em cada casa, em cada janela e em cada automóvel. Ensinou um país envergonhado a vestir as suas cores e a pintar a cara de verde e vermelho emprestando um colorido vibrante ao grito que faltava.
Esse homem, esse brasileiro, comoveu os portugueses com os seus gestos de portugalidade ao gritar, incentivando os jogadores, como sempre fez aqui no seu país. E lá, também os seus olhos azuis não tiveram vergonha de ser crianças na hora do golo, na hora da sorte, na hora do lance amigo.
Todos os jornais e todos os sites portugueses evidenciam as qualidades desse Felipão brasileiro que teve a coragem de ser ele mesmo, ao mostrar a mesma disposição na hora do incentivo e até da reclamação. Até a simples mulher portuguesa lá do interior, fala desse Felipe Scolari como se ele fosse o D. Sebastião que surgiu das páginas da História de Portugal para resgatar o sentimento da perda que sempre acompanhou o país.
Se calhar é esse o homem que lá longe está a fazer falta aqui ao seu país, porque representa, ainda, e mais do que nunca , a altivez e a ousadia do grito na hora certa, que ficou lá atrás na recordação do seu entusiasmo , quando pulava ou reclamava, à beira dos gramados do Brasil .
Talvez até já seja tarde para lhe pedirmos que venha urgente, resgatar o orgulho do futebol brasileiro, brilhante e imparável quando era impulsionado pelos gritos do seu entusiasmo, da sua força e da sua vontade incomum.
Talvez ele já seja uma cópia de um D. Sebastião que saiu da historia de Portugal e esteja representando, aqui, uma partida sem regresso e uma saudade que vai durar.
Joaquim C. Guerreiro
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