Há cerca de um ano, iniciei aqui uma secção dedicada à linguagem popular, ao modo como se falava antigamente. Retomo agora essa secção com mais um excerto do livro de Norberto Franco.
II – No Rio
- Bem, compadre, encanto as mulheres andom lá na lavação vamos nós e o mê rapazinho pondo o estemalho a cercar aquela pedra quê le fali. Ôdepois ê escarafuncho com a vara ali na lapa e vocêses enregom à bolegada pr’á água a ver s’os bichos afiom drêto à rede.
- Sorte nã tiraremos p’rá calduvana.
- Ora, se nã entrarem faz-se uma sobranfusa. Mas esta péguia tem munto pêxe macho. Cando cá vim à pagalhada éramos seis ô sete e sobrarom. O Xico Taludo apanho uma barrigada c’até fico d’embigo ô lado. E tava já alitrado, andava ali naquela assentada ôs ramalhos, embico num guizarro, foi logo de pantanas com o focinho ô chão. Podia-se ter matado com o estoiro, mas vá lá, fico só escalavrado.
- Esse é capaz de buber uma adega.
- Homi’essa vêi lá o que fez cando o convidi p’ra ir lá a casa a provari o mê vinho, arrimo-sê ô pote e tava já ali d’aposento, e vá mais ê já dezia, querem ver qu’este Entrudo castelhano me mama o pote? Dê-le grande baxa! E ê acartando azêtonas e tarraçadas de tocinho frito, e o bicho farto que nem uma uva…
- Saiu de lá que nem um adufe, ainda vi jêtos de s’espojar nas escalheras mas lá se foi ronciando caminho da venda em vez d’ir apanhar ar, a ver se le passava, um calaburso daqueles….
In “Amareleja – Linguagem Regional e Popular” de Norberto Franco